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Selic cai para 10,75%, mas ainda prejudica desempenho da economia

'Manutenção da Selic elevada boicota crescimento do país e Copom tem espaço para acelerar corte de juros, com inflação em queda e sob controle', defende Contraf-CUT



O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reduziu nesta quarta-feira (20), a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), que passa de 11,25% para 10,75% ao ano.A entidade anunciou também que manterá o ritmo de cortes nos próximos encontros. O que significa que o Brasil pode chegar com um índice abaixo de dois dígitos na reunião de junho deste ano.“Se abrirmos os jornais agora, vamos ver que, em muitos portais de notícias, o destaque é que esse nível da Selic anunciado hoje é o menor em dois anos, como se fosse motivo para comemorar. Mas não há o que comemorar, pelo contrário, simplesmente significa que o Banco Central está praticando uma política monetária prejudicial ao desenvolvimento do país há anos. Porque, mesmo tendo chegado ao menor nível em dois anos, o índice ainda é alto e trava a economia brasileira”, destaca a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.

É possível acelerar

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, explica que o Copom tem espaço para acelerar os cortes da taxa básica de juros.“O Brasil vem registrando queda no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desde o ano passado. Então, não justifica a manutenção de uma Selic que, descontada a inflação, mantém o país com uma das maiores taxas de juros reais do mundo e que, por consequência, torna caro produzir no Brasil, investir na expansão de empresas e de negócios e, assim, desestimula a criação de empregos de qualidade”, explica.Entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024, o IPCA caiu de 5,6% para 4,5%, percentual dentro do limite superior da meta de inflação para este ano (4,5%). O quadro do índice medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fica mais positivo quando excluídos os preços sujeitos a choques temporários (a exemplo das commodities, alimentos e combustíveis) que, no acumulado dos 12 meses, até fevereiro passado, ficou em 3,88%.Além de impactar no crescimento do país, por tornar mais caro os custos com crédito, a Selic também é responsável por aumentar os gastos do governo Federal com os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional, por ser o principal índice usado nessas negociações – em 2023, foram R$ 719 bilhões gastos pela União, com os juros da dívida.“Em suma, juros elevados significam mais gastos com a dívida pública e, portanto, menos recursos disponíveis para o governo investir no que importa, que é Saúde, infraestrutura, educação e segurança”, observa o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.Leia também: Sequência de quedas na Selic, desde agosto passado, trouxe impactos no índice de desemprego

Impacto sobre as reservas internacionais

O Brasil fechou 2023, com US$ 355 bilhões em reservas internacionais. Segundo levantamento do Dieese, entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, o montante aumentou em US$ 23,9 bilhões. A alta no primeiro ano do governo Lula também representa avanço de 9,43% em relação a 2022.A economista do Dieese, Vivian Machado, explica que o movimento das reservas está ligado ao mercado de câmbios, sendo que a redução da taxa básica de juros contribui para o resultado positivo.“As reservas internacionais, mantidas em dólares, são muito importantes para proteger o país, o sistema bancário interno, em caso de crises externas. E a forma em que o governo federal forma essas reservas são por meio da compra de dólares no mercado; aplicações em títulos do Tesouro ou dos Estados Unidos (o Tesouro Nacional emite títulos no Brasil e, com o montante arrecadado, compra dólares para investir no Tesouro norte-americano); e emissões de títulos da dívida pública no mercado internacional”, destaca.A diferença entre a taxa básica de juros do Brasil e a remuneração dos títulos americanos impacta especialmente no custo de manter as reservas internacionais. Quanto mais alta a Selic em relação à taxa básica de juros dos Estados Unidos, maior o gasto do governo brasileiro para manter as reservas internacionais.Apesar de as reservas internacionais serem um seguro importante para o Brasil, o país vinha registrando queda no montante, aprofundada significativamente nos quatro anos do governo Bolsonaro – de janeiro de 2019 até dezembro de 2022 as reservas caíram de US$ 390,5 bilhões para US$ 324,7 bilhões – US$ 65,8 bilhões a menos.

Entenda

– O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país, chamada Selic. O próximo encontro será nos dias 7 e 8 de maio.– A Selic mais alta aumenta o custo de vida do trabalhador, os empréstimos para pessoa física e empresas e a dívida do Estado.– Os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública. Atualmente, as instituições financeiras voltaram a ser os maiores detentores de títulos federais.– Diante do quadro, movimentos sociais, incluindo o movimento sindical, realizam desde o início de 2023 manifestações e campanhas com a hashtag #JurosBaixosJá.– A Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto de 2023 quando, finalmente, o Copom deu início a um ciclo de cortes de 0,50 ponto percentual a cada encontro.– No comunicado da última reunião, realizada entre 19 e 20 de março, o Copom indicou que continuará com a tendência de corte. Com isso, a Selic deve chegar a menos de dois dígitos (abaixo dos 10%) no meio do ano.– Os argumentos utilizados pelo Copom para manter a Selic elevada é o risco de elevação de juros no país, por conta do aquecimento econômico. Entretanto, o país segue registrando índices de preços sob controle e abaixo da meta estipulada pelo próprio Banco Central.– Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria, pelo menos, estar no patamar de um dígito, para que o Brasil deixe de ter uma das maiores taxas de juro real (que é o resultado da Selic menos a inflação) do mundo.

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